17 de fevereiro de 2012

Quaresma: caminhada para a Páscoa

Gostamos de festas e de preparar bem as que celebramos. Batizado, casamento, formatura, aniversário, réveillon... Quanto mais importante a festa, mais tempo levamos para prepará-la. Algumas são organizadas até com mais de um ano de antecedência. Nós cristãos celebramos todos os domingos a Páscoa de Jesus e a nossa Páscoa. Como diz São Jerônimo: “o domingo é o dia da ressurreição, o dia dos cristãos, é o nosso dia”. No entanto, os primeiros cristãos começaram a celebrar além da Páscoa semanal, o Domingo - um grande Domingo – e a Páscoa anual - a festa mais importante do ano.

A festa anual da Páscoa é tão importante e grande que merece nossa preparação. Preparamo-nos durante 40 dias. Iniciamos a Quaresma recebendo cinzas que manifestam a nossa disposição em submetermos à penitência como os penitentes públicos do século X, que usavam panos de saco e cinzas em sinal de arrependimento. Na Quaresma, toda a Igreja - desde o papa - clama pela graça da conversão: “convertei-nos, ó Deus, nosso Salvador, e, para que a celebração da Quaresma nos seja útil, iluminai-nos com a doutrina celeste” (Oração da segunda-feira da primeira semana da Quaresma).

A presença do pecado em nossas vidas torna a penitência necessária o tempo todo. Se sentirmos que não há nada para reprovar em nós, devemos ouvir as palavras de São João: “se dissermos que não temos pecado em nós, estamos enganamo-nos a nós mesmos e recusando admitir a verdade” (1Jo 1,8).

Penitência, no sentido de conversão, nunca é opcional. Até quando resolvemos dar nossas vidas a Deus, nossa conversão nunca é completa e total. Ficam recantos de nosso coração, nunca totalmente convertidos ao evangelho. São áreas de resistência à graça de Deus.

Temos sempre de lutar contra nossas limitações e fraquezas. Somente Deus pode criar novo coração em nós. A Quaresma é oportunidade dada por Ele para empreender a conversão de nossos corações. “Convertei-vos, e crede no Evangelho”: este é o convite que Jesus nos faz (Mc 14,15). A Quaresma é um tempo forte na vida da Igreja em que fazemos o caminho para a Páscoa, motivados pela Palavra e unidos aos sentimentos de Jesus Cristo.

É um tempo de graça e benção, de recordação e preparação do batismo, de oração mais intensa, de jejum como aprendizagem, entrega e docilidade à vontade do Pai, de esmola ou de partilha de bens e de gestos solidários e de carinho com os pobres e necessitados. O objetivo do jejum, da esmola e da oração é o amor mais perfeito a Deus e ao próximo. Os profetas e o próprio Cristo advertiram contra os perigos do formalismo. Onde o amor está ausente, nenhuma quantidade de jejum agradará a Deus.

Quanto melhor for vivida a Quaresma, melhor será a festa da Páscoa. Por isso, para celebrarmos profundamente, seguem alguns lembretes:

- A oração, o jejum e a solidariedade devem ser intensificados.

- A Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e saúde pública” e com o lema “Que a saúde se difunda sobre a terra” nos conclama a lutar por atendimento digno e saúde para todos. Cada comunidade deve procurar a forma de ligar a Campanha da Fraternidade com as celebrações da Quaresma.

- Nos domingos e dias de semana, na celebração da Eucaristia, da Palavra e no Ofício Divino, as orações e os textos bíblicos e patrísticos vão orientando nosso caminho.

- O espaço litúrgico seja despojado e sóbrio. Os vazios e as ausências nos ajudam a esvaziar o coração para preenchê-lo com a Palavra, que é luz para nossos passos e que nos converte.

- Momentos de silêncio, principalmente entre as leituras e após a homilia, são importantes.

- A cor litúrgica para a Quaresma é a roxa, que expressa a dimensão maior de penitência e disposição à conversão. Um sinal permanente no espaço litúrgico, como um tecido roxo em forma de faixa na mesa da Palavra ou como detalhe na mesa eucarística (sem “tampar” ou esconder o altar), ajudará na experiência quaresmal.

- O 4o Domingo da Quaresma é conhecido, na tradição da Igreja latina, como domingo da alegria ou laetare (em latim, “alegrar-se”). Neste dia, usa-se a cor rosa ou o róseo.

- A cruz, pela qual fomos marcados no Batismo, deve ser destacada. Ela lembra que somos discípulos e discípulas de Jesus, que superou o fracasso humano da cruz com um amor que vence a morte. Nas celebrações do Ofício de Vigília, aos sábados, no momento do canto de abertura, pode ser feita a iluminação da cruz. É preciso também valorizá-la nas celebrações dominicais.

- Os cantos e melodias expressam o sentido próprio do mistério celebrado. Por isso, cuide-se para que não apenas deixem de ser cantados o Glória e o Aleluia, mas que, tanto no conteúdo quanto no ritmo e no uso dos instrumentos, eles sejam uma verdadeira expressão da Quaresma. O Hinário Litúrgico da CNBB, fascículo 2, oferece um rico repertório.

- O Ofício Divino das Comunidades é uma referência para a música e para os momentos de oração comunitária.

- Alguns gestos e ações simbólicas podem ser mais valorizados neste tempo, por exemplo, o ajoelhar-se, o rito de bênção e a aspersão da água durante o ato penitencial.

- A comunidade pode fazer maior experiência da misericórdia de Deus através do sacramento da Reconciliação, de celebrações penitenciais e também de retiros.

- Os diversos ministérios devem ser lembrados como verdadeiros serviços e entrega à comunidade reunida.

- Em cada domingo, o prefácio escolhido deverá assemelhar-se aos textos bíblicos do dia. Ver os prefácios próprios para a Quaresma batismal.

- A comunidade pode ter um ou mais jovens ou adultos que, tendo feito o pré-catecumenato e o catecumenato, realizem a segunda etapa do Rito de Iniciação Cristão de Adultos.

- No processo catecumenal, são realizados no 1o Domingo os ritos de eleição e inscrição do nome. O 3o, o 4o e o 5o Domingo são destinados aos escrutínios: oração sobre os eleitos, preces e exorcismos, e também à entrega do Símbolo (o credo), do Evangelho e da Oração do Senhor (Pai-nosso).

- A equipe de liturgia (da qual fazem parte também os músicos) se reunirão para programar e preparar (e até ensaiar) as celebrações do tempo da Quaresma.

Portanto, nesta caminhada para a Páscoa, façamos de nossa vida uma oferenda pascal e deixemos o Espírito Santo nos purificar e santificar. “Eis o tempo de conversão! Eis o dia da salvação! Ao Pai voltemos! Juntos andemos!”

Tempo da Quaresma

O termo Quaresma deriva do latim "quadragesima dies", ou seja, quadragésimo dia. É o período que dura 40 dias: começa na quarta-feira de cinzas e termina na quarta-feira da Semana Santa.

Sua origem é bíblica. Podemos citar os 40 anos do povo a caminho da terra prometida, os 40 dias em que Moisés esteve no Monte Sinai ou o tempo em que Jesus jejuou no deserto.  Por isso a Bíblia compreende os 40 dias como tempo de penitência e de elevação do espírito para entrar em comunhão com Deus.

A Quaresma é tempo de sinceridade conosco e de penitência, em que se defende a libertação interior do que nos afasta da obediência a Deus e da caridade para com os irmãos.

É tempo de escuta da Palavra, de oração, de jejum e de intensificar-se na prática da caridade como caminho de conversão, tendo como horizonte a celebração do Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus cristo.

Na liturgia não se diz "Aleluia", nem se colocam flores nas igrejas. Não devem ser usados muitos instrumentos e não se canta o Hino de Louvor – O glória.

A cor roxa usada na liturgia

O roxo é a cor da temperança, a combinação do vermelho e do azul. Equilibra o celestial e o terreno, os sentidos e o espírito. Representa também um espírito de luto. Os paramentos roxos simbolizam a dor e a esperança dos fiéis, em comunhão com Jesus.

As cinzas que recebemos no início da quaresma

Desde a antiguidade, existe o costume de cobrir a cabeça com cinzas, para expressar a submissão a Deus e a decisão de mudar de vida. Foi assim que os ninivitas se cobriram com cinzas para mostrar sua mudança de vida - após os 40 dias de pregação de Jonas.

A quarta-feira de Cinzas existe desde o século 8º, com imposição das cinzas na cabeça do cristão, para que se reconheça limitado, fraco e imperfeito e assim converta seu comportamento para Deus e mude sua vida.

Estas ‘cinzas’ são feitas com a queima dos ramos secos, usados no Domingo de Ramos do ano passado. Lembram que Deus se reduziu à morte de cruz, para nos dar a vida eterna e a libertação da morte. É sinal de dor e penitência.

As cinzas significam também, que devemos tomar consciência de nossos limites para motivar a mudança e a purificação de nossa vida. A mortificação dos sentidos para fortalecer o espírito e o despojar-se da ambição para se voltar aos irmãos e a Deus é  o sentido de hoje.

O ministro diz as seguintes palavras: “És pó e a pó retornarás” ou “convertei-vos e crede no Evangelho”. É um convite a mudança de vida, a voltar-se para Deus, para Jesus Cristo que deu sua vida pela nossa salvação.

Todos são convidados na Quaresma a participar do Sacramento da Confissão

Este é o momento mais importante da nossa conversão, pois é neste sacramento que recebemos o perdão e ao mesmo tempo, as graças necessárias para recomeçar nossa vida com Deus. Perdoados por Ele, podemos começar a vida nova que a Páscoa nos oportuniza.

Durante a Quaresma, o cristão é convidado a intensificar estas três virtudes:
Oração - Cristo se afastou para o deserto e para o silêncio. Lá, encontrou-se consigo mesmo e com Deus. Hoje, nós precisamos deste tempo para reflexão. Por isso precisamos dedicar mais tempo à oração, e de um modo especial, participar das via-sacras nas sextas-feiras;

Jejum - É a disciplina pessoal. É a abstenção de alimentos e, sobretudo, o autocontrole dos sentidos. Atualmente, se pratica o jejum na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa, com insistência na luta pela transformação da sociedade. A importância do jejum está na solidariedade. Porém, este não precisa ser somente de alimentos. Pode ser também de palavras e de atitudes nas quais estamos sem controle e precisamos retomar a disciplina.

Caridade – O essencial da vida cristã é o amor. Doar-se em prol do bem do próximo e cuidar de sua salvação é fazer como o próprio Salvador fez. E neste tempo de conversão somos convidados a intensificar a prática daquilo que é essencial para a nossa própria salvação: o amor. A Igreja nos convida a partilha com os necessitados, especialmente a participar da Coleta da Campanha da Fraternidade, realizada no Domingo de Ramos.


Uma boa caminhada quaresmal a todos!

Padre Luciano dos Santos e Padre Ivanor Macieski

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