20 de março de 2012

Padre, cadê os comentários?

Quem já não ouviu em celebrações litúrgicas as seguintes ordens: “Sentados!”, “De pé!”, “Vamos ouvir...”, “Vamos começar...”, “Façam isso ou aquilo”? Como se fossemos apenas destinatários da ação litúrgica. Somos protagonistas, assembleia litúrgica, povo sacerdotal. A nossa participação na liturgia é um direito sagrado (direito e dever!) adquirido no batismo (Sacrosanctum Concilium n. 10). Não precisamos de “palavras de ordem” de ninguém! Estamos em nossa casa, a casa da Igreja. Estamos onde devemos estar. A liturgia é oração da Igreja! A liturgia é nossa oração!

E os comentários? Qual o momento apropriado para eles? Os comentários e explicações, quando necessários, são próprios da homilia. Fora deste momento, quebram a unidade da liturgia, o ritmo da celebração e o fluxo do rito. Por isso, os bispos do Brasil pediram que as palavras “comentarista” e “comentário” não fossem mais usadas (cf. CNBB. Liturgia em Mutirão II. Brasília: CNBB, 2009, p. 236).

Porém, algumas palavras poderão nos preparar, dispor e ajudar para que participemos ativa, consciente e frutuosamente na liturgia. São breves esclarecimentos em momentos oportunos (não leituras de textos de folhetos impressos). E a palavra que mais se aproxima da função exercida pela pessoa que faz os breves esclarecimentos é “animador”. Não “animador de auditório”, mas animador que cria ambiente de piedade antes da celebração, que nos convoca à concentração e promove pequenos ensaios que ajude a nós, o povo de Deus reunido, a participar ativamente de tudo.

Um dos momentos oportunos para breves palavras do animador pode ser antes do canto de abertura. No Brasil, as celebrações costumam ser precedidas por breves palavras iniciais do animador que situam a celebração no contexto do Tempo litúrgico e das circunstâncias concretas da vida da comunidade (cf. Doc. 43 da CNBB, n. 237). O animador vincula a liturgia celebrada à nossa vida (a liturgia vivida). Ele poderá apresentar as pessoas que estão participando pela primeira vez da comunidade ou a estão visitando e as crianças que serão batizadas ou os noivos que se preparam para o matrimônio. O animador poderá mencionar, também, as pessoas ausentes da comunidade - os doentes e idosos, os obrigados a trabalhar no Dia do Senhor ou os que estão viajando, os que morreram na semana que passou ou os familiares enlutados.

Outro momento pode ser logo após a saudação inicial daquele que preside a liturgia. O animador, através de uma palavra espontânea de introdução (cf. Doc. 43 da CNBB, n. 244), pode valer-se da resposta da assembleia e expressar que esta união não se fundamenta somente na amizade, na afinidade ou interesse comum. A assembleia reunida firma-se no amor de Cristo, no amor de Deus que nos circunda e que nos faz assumir nossas diferenças e desavenças, perdoar as faltas uns dos outros e unir nossas vozes num único louvor (cf. BUYST, Ione. A missa. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 46). Desse modo, a introdução espontânea poderá desembocar numa saudação mútua e acolhedora.

Outro momento, também, pode ser o início da Liturgia da Palavra. O animador poderá nos preparar e nos dispor para que ouçamos atentamente a Palavra do Senhor. Contudo, muito mais do que palavras, é a atitude do leitor, do salmista, do diácono ou do presidente da celebração que vai nos ajudar a ouvir e acolher a Palavra do Senhor. Vale lembrar que uma frutuosa proclamação e acolhida da Palavra requer a valorização do ambão (através de sua localização e ornamentação), um bom microfone, a veste litúrgica própria para leitores, um refrão meditativo...

Portanto, a função do animador não é de comentarista, de nos oferecer informações catequéticas ou moralistas, mas de nos fazer convites de cunho espiritual, sempre discretos e orantes. Ele exercerá tanto melhor seu papel, quanto mais discreto for. O animador é um mistagogo que nos conduz à plena participação da ação litúrgica. A palavra do animador na liturgia não pode negar a Palavra, mas servi-La! O animador está a serviço do diálogo entre Deus e nós, povo sacerdotal.
 

Autor: Padre Luciano dos Santos - Coordenador Pastoral

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