7 de março de 2012

A Campanha da Fraternidade e a Confissão

A Campanha da Fraternidade deste ano faz um apelo à saúde pública. Pois bem, a saúde interessa a todo e qualquer cidadão e, cada um por si só, tem o compromisso de cuidar de sua própria saúde, para viver bem e ser feliz. Mas, quando tratamos da saúde pública, entramos na relação do bem comum. A saúde de todos. Não só da minha, mas também da sua, da nossa e da vossa.

Neste texto vamos ver a relação que existe entre a saúde pública e o sacramento da confissão. De imediato recordo-me de Juquinha que foi se confessar. Apresentou-se ao padre, contou seus pecados e, no final, lembrou-se que ainda tinha um pecado grave para acusar. Então disse: “padre, roubei uma cordinha”. E o padre: “De quantos metros?”. E o Juquinha: “De uns três metros”. Então o padre disse: “Mas, isso não chega a ser um pecado grave”. No que Juquinha respondeu todo encabulado: “Não sei como foi, mas na ponta da cordinha tinha um cachorrinho bem pequeno, um pequenez, bonitinho e fofinho”.

Pois bem, tanto a saúde pública como uma confissão requerem, por si só, o que chamaria de qualidade. Nosso povo anda doente e precisa curar-se. A medicina tem evoluído muito, mas parece estar distante do bem comum. As pessoas vão atrás de profissionais da medicina e encontram mil e um obstáculos. Os fiéis procuram o padre para confessar-se, mas onde estão os padres na hora de atender os penitentes? Quem tem plano de saúde, até se sente protegido. E, quem não consegue tê-lo? Os médicos cobram preços exorbitantes. Há muitos hospitais. Mas, questiona-se o atendimento. Há hospitais com leitos ociosos e, nos mesmos hospitais, doentes em macas nos corredores. Dá prá entender?
Problemas não faltam. Tenho a impressão de que, na sociedade moderna, o maior número de doenças provém do estado da alma. As ciências psicológicas, ligadas à psiqué das pessoas, ou seja, à alma do ser humano, são muito recentes. Desde quando existem os cursos de psicologia e de parapsicologia? São ciências muitos recentes e temos muitos profissionais da área que deixam muito a desejar, ao lado dos que exercem sua profissão com muita qualidade e eficiência.

Guiar o ser humano no seu íntimo, saber orientar as pessoas no caminho bem, direi, é a arte das artes. Jesus a tinha de sobra. Como sabia guiar as pessoas para o caminho do bem! Vem-me à mente o caso da mulher adúltera que devia ser apedrejada por causa de seus pecados públicos. O que Jesus fez? Voltou-se para o pessoal e lhes disse: “Quem de vocês não tem pecado, atire a primeira pedra”. Um a um, todos soltavam as pedras, a começar pelos mais velhos. Depois, voltou-se para a mulher e lhe disse: “De agora em diante, vai e não peques mais”.

Pois bem, Jesus apenas poderia ter protegido a mulher do apedrejamento. Mas, foi adiante, pediu-lhe um compromisso, uma ação concreta de mudança de vida. É a arte das artes. Jesus lhe dá um novo sentido à sua existência, abandonar sua vida doentia para viver vida plena, de qualidade, baseada no compromisso e no engajamento.

O sacerdote deve ser um desses profissionais da saúde, ligado ao sacramento da confissão. E o penitente deve crer que, além da qualidade do atendimento do confessor, há um algo a mais, que age na pessoa do próprio Cristo, que perdoa. O mesmo Cristo da mulher adúltera, do bom samaritano, da Última Ceia, da Paixão e da Ressurreição. Ele é o caminha, a verdade e a vida. Assim, a Igreja professa e proclama a misericórdia.

Normalmente, temos medo de nos confessar. Isso faz parte. O medo deve ser superado, não vem de Deus. E a confissão deve ser bem feita e clara. Não complicar. O Juquinha queria enrolar o padre. Quanto mais claros somos, mais luz terá o confessor para nos guiar no bem. Ele também é um pecador e sabe disso, mas foi assim que Jesus instituiu o sacramento da reconciliação. Ele quer que a saúde de nossa alma perpasse pelo filtro de um irmão mais velho, um presbítero.

E os efeitos que sentimos depois da confissão? Normalmente as pessoas dizem: “Nossa, como me sinto leve!” “Como me sinto bem!” Não podemos imaginar o trabalho de Jesus no interior das pessoas. Quanta saúde, quanta paz. É um remédio e tanto! Talvez insuperável! O penitente se revigora totalmente. Torna-se novo, sadio. Então, por que medo? Por que não?

Inventamos desculpas para não confessar. Esquecemo-nos do Pai. Esquecemos a alegria do perdão. Cultivamos rancores, antipatias e mágoas. Mas o grande Pai não. Nós todos valemos muito mais do que tudo aquilo que podemos ter esbanjado ou aprontado. Ele não precisa dos nossos bens e nem da nossa ficha limpa, quer o nosso coração. O abraço do perdão será inesquecível e a festa também.

Podemos concluir dizendo que, realmente, existe uma estreita ligação entre a saúde pública e a confissão sacramental. Ambas querem chegar ao ser humano e dar-lhe maior qualidade de vida.

Dom Irineu Roque Scherer - Bispo da Diocese de Joinville

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar!