7 de maio de 2012

Maria, Mãe da Igreja

O mês de maio nos convida sempre a falar de Maria, com os seus mais variados títulos. Um deles é Maria, Mãe da Igreja. Alguém poderia perguntar: desde quando e por quem foi dado esse título?

Foi dado a Maria em 21 de novembro de 1964, pelo Papa Paulo VI, durante o Concílio Vaticano II com essas palavras: “Para a glória da Virgem e para o nosso conforto, proclamamos Maria Santíssima Mãe da Igreja, isto é, de todo o povo de Deus, tanto dos fiéis quanto dos pastores, que a chamam de Mãe amorosíssima. E queremos que, com este título suavíssimo, seja a Virgem doravante ainda mais honrada e invocada por todo o povo cristão".

Em 30 de junho de 1968 no Credo do Povo de Deus, ele repetiu essa verdade de forma ainda mais forte: “Nós acreditamos que a Santíssima Mãe de Deus, nova Eva, Mãe da Igreja, continua no Céu a sua missão maternal em relação aos membros de Cristo, cooperando no nascimento e desenvolvimento da vida divina nas almas dos remidos”.

A figura de Maria Mãe da Igreja é muito significativa. Ela estende seu manto e cobre com ele todos os seus filhos e filhas, de todas as raças e cores, de todas as vocações, de todas as línguas e nações. Ela ama com todo seu coração a todos indistintamente. A esse respeito já nos dizia o Papa Leão XIII: “Refugiemo-nos muitas vezes debaixo do manto de Maria Nossa Senhora, segundo o exemplo dos doutores e dos padres da Igreja; evoquemo-la Mãe de Jesus Cristo e nossa; digamos-lhe todos com coração grande: Maria, mostra que és nossa Mãe; acolha as nossas orações aquele Jesus que quis ser teu Filho”.

Maria é aquela Mulher que atravessa toda a história da salvação do Gênesis ao Apocalipse. Ela é a Mulher que vence a Serpente, que havia vencido a mulher: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gen 3,15). Está visualizada nas grandes figuras femininas, como Ester, Judite, Rebeca, Miriam etc. Foi anunciada por Isaias como a “Virgem que nos traria o Salvador da humanidade” (Is 7,14).

Quando Jesus chama a sua Mãe de Mulher, é para nos indicar quem é a grande Mulher predileta de Deus: “Mulher, isto compete a nós? Minha hora ainda não chegou”. (Jo 2,4). “Mulher, eis aí teu filho”. (Jo 19,26). Maria é a Virgem que o profeta anunciou que haveria de conceber e dar à luz um Filho, cujo nome é Emanuel (cf Is 7,14; Mq 5,2-3; Mt 1,22-23).

Pela primeira virgem entrou o pecado na história dos homens, e com ele a morte (Cf. Rom 6,2); pela nova Virgem entrou a salvação e a vida eterna. Foi ela quem deu a carne ao Filho de Deus, para que “mediante os mistérios da carne libertasse o homem do pecado” (LG,55). Sem isto Cristo não poderia ser o grande e eterno Sacerdote da Nova Aliança.

Eis aí o papel indispensável de Maria. Como diziam os Santos Padres: “Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência” (LG, 56). Santo Irineu, um dos Santos Padres da Igreja dizia que: “O laço da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva atou com sua incredulidade, a Virgem Maria desatou pela fé”. E ainda, São Jerônimo: “A morte veio por Eva, a vida por Maria”.

Maria foi peça chave, indispensável, no Plano de Deus para a Redenção da humanidade. “Na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher,... para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gal 4,4). Ou como diz o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, falando de Jesus: “O qual, por amor de nós homens e para nossa salvação desceu dos céus e se encarnou pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria”.

Desde os primeiros séculos do Cristianismo Maria é reconhecida e chamada pelos cristãos de “Mãe de Deus” “Theotokos”. Desde o final do século II, os cristãos do Egito e do norte da África, onde havia mais de 400 comunidades cristãs, já a invocavam como Mãe de Deus, na oração que talvez seja a mais antiga que a Igreja conheça: “Debaixo de Vossa proteção nos refugiamos Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, Virgem gloriosa e bendita”.

O Concílio Vaticano II reconheceu que Maria: “Na Santa Igreja ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós”. (LG,54). Além disso, “sofreu profundamente com o Unigênito e associou-se de coração materno ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que ela havia gerado; finalmente, ouviu estas palavras do próprio Jesus Cristo, ao morrer na cruz, dando-a ao discípulo por Mãe: “mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19,26-27),(LG,62).

Após a Ascensão do Senhor ao céu vemos Maria com os seus discípulos, aguardando a vinda do Prometido do Pai, implorando com suas orações a chegada do Espírito Santo: “Todos eles perseveravam unanimemente na oração; juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele” (At 1,14).

E, finalmente, terminando a sua vida terrena, ela que fora preservada de toda mancha do pecado, “Foi levada à glória celeste em corpo e alma, e exaltada pelo Senhor como Rainha do Universo, para que se parecesse mais com o seu Filho, Senhor dos Senhores (cf. Apo 19, 16) e vencedor do pecado e da morte” (LG 59).

A função maternal de Maria aconteceu por livre escolha de Deus pelos méritos de Cristo e de sua mediação única, e dela depende absolutamente em toda a sua eficácia, isto é, sem o sacrifício redentor de Cristo, a função de Maria como medianeira, não seria possível. Portanto, Maria, longe de impedir o contato dos seus filhos com o Filho, o facilita ainda mais. Logo, Maria jamais substitui a única e indispensável mediação de Jesus diante do Pai, mas coopera com ela para o bem de seus filhos.

No céu ”garante a Igreja”, pois Ela é Mãe da Igreja que continua a sua missão de intercessora, medianeira para “obter-nos os dons da salvação eterna”. “Com seu amor de Mãe, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz” (LG, 62).

Juntando o amor de todas as mães, constituiria um grande fogo: mas o amor de Maria por cada um dos seus filhos supera esse fogo. Isto porque foi Jesus que o acendeu da cruz. Ela é a causa da nossa alegria, o refúgio dos pecadores, a consoladora dos aflitos, o auxilio dos cristãos, a sede da sabedoria, a mãe do bom conselho, a mãe amável e admirável; ocupa-se de todos e de cada um. “E todas as gerações hão de chama-la de bendita”.

Autor: Dom Irineu Roque Scherer - Bispo da Diocese de Joinville

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar!